O papel da
arte em relação a vontade
A constatação
da quase universal submissão do conhecimento aos
interesses e impulsos da Vontade, de que tratamos há pouco, não impede que o filósofo considere a possibilidade de uma
“libertação” deste jugo: “em alguns homens o conhecimento pode subtrair-se
desta escravidão, rejeitar este jugo e permanecer puramente ele mesmo,
independente de todo alvo voluntário, como puro e claro espelho do mundo: é daí
que procede a arte”.
A arte
possui para Schopenhauer o poder de suprimir, ainda que por um tempo limitado, a
submissão do conhecimento à vontade. Na experiência estética consumada,
absorvido em contemplação profunda, várias “modificações” são notáveis: o
sujeito, antes dominado pelo querer, torna-se “sujeito puro do conhecer”,
isento de vontade; e o princípio de individuação, que causa a ilusão da
individualidade, torna-se inoperante, de modo que “nos esquecemos de nossa
individualidade, da nossa vontade e só subsistimos como puro sujeito, como
claro espelho do objeto, de tal modo que tudo se passa como se só o objeto
existisse, sem ninguém que o percebesse, que fosse impossível distinguir o
sujeito da própria intuição e que ambos se confundissem no mesmo ser”.
procura
descrever o modo como através da arte é possível uma superação da dualidade sujeito-objeto, característica do mundo como representação. Quando atinge o
estado de contemplação profunda que caracteriza a experiência estética, o sujeito,
que antes “enxergava” uma clara distinção entre si mesmo e os objetos
representados, passa a “confundir-se” com eles, constituir com eles uma
unidade, espécie de eco da unidade de essência que os une: a essência comum que
compartilham, a vontade