
Sem dúvida há espaço e respaldo para essas práticas artísticas, uma vez que a percepção poética/estética dos dias de hoje, se não é apropriada pelas mensagens publicitárias, é, por outro lado, sufocada (quem sabe até coagida) pela quantidade massificantes de imperativos do tipo “faça”, “seja”, “produza”, “compre”. Proporcionar então um espaço de afloramento dessas percepções poéticas e reflexões estéticas talvez possa ser adjetivado como um dos – outrora basilares, hoje em dia demodés – papéis sociais da arte.
Contudo, o ponto de interrogação insiste em se manter presente na fruição de grande parte da produção artística. A dificuldade da arte contemporânea continua sendo, assim, a necessidade de delimitar sua identidade: é ou não é arte e porque. A questão dos atributos plásticos, estéticos ou poéticos continua aparecendo no horizonte de fruição e qualificação dessa produção artística (há pelo menos quatro décadas). Continuam sendo pertinentes tanto para artistas e críticos, quanto sobretudo para o público. Porque – e de que forma, a partir de quais prerrogativas – acender um fósforo é uma obra de arte? Porque andar em círculos ou oferecer um banquete é uma obra de arte? Sobretudo para público pouco versado nas discussões estéticas e debates téoricos/filosóficos da arte, a questão se torna fundamental. Fundamental por causa de uma insistente necessidade comum a (quase) todos de separar arte e vida comum.